A versão inicial apontava que o dançarino da TV Globo foi vítima de uma queda. Para a mãe de Douglas, PM-RJ é responsável
As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), ocupações militares
mantidas pelo governo do Rio de Janeiro em comunidades da cidade, têm
mais uma morte sem explicação, ao menos por enquanto, em sua lista de
tragédias. A vítima da vez é Douglas Rafael da Silva Pereira, 26 anos,
dançarino do programa Esquenta, da TV Globo, conhecido como DG. O corpo
de Douglas foi encontrado na terça-feira 22, em uma creche na comunidade
do Pavão-Pavãozinho, zona sul do Rio, e, inicialmente, a morte foi
atribuída a uma queda. O laudo do Instituto Médico Legal (IML),
entretanto, mostra que DG foi morto com um tiro e, segundo a mãe do
dançarino, teria sido torturado.
As acusações de Maria de Fátima da Silva, mãe de DG, são baseadas no
laudo do IML. Segundo ela, o documento diz que a causa da morte de DG
foi uma hemorragia interna provocada por um “objeto transfixante”. O
laudo é corroborado por fontes da Polícia Civil, que segundo a TV Globo
confirmaram que Douglas recebeu um tiro. O projétil teria entrado pelas
costas, na região lombar, e saído pelo ombro, uma indicação de que o
disparo foi feito de baixo para cima.
A mãe do dançarino, entretanto, vai além. Em entrevista à rádio CBN,
Maria de Fátima da Silva afirmou que DG foi “torturado até a morte”. De
acordo com ela, o corpo de seu filho tinha marcas de cortes, agressões e
pisadas de bota. Além disso, tanto o corpo quanto os documentos que DG
carregava estavam molhados, sendo que não chovia na hora de sua morte,
na madrugada de segunda-feira 21. Para ela, DG foi morto por policiais
da UPP, com quem tinha uma “picuinha” desde 2011, provocada por uma
briga a respeito do roubo de sua moto. Silva diz ainda que os policiais
tentaram adulterar a cena do crime.
“Disseram que ele morreu vítima de queda. Mas ele foi espancado pelos
policiais da UPP, que arrastaram o corpo e esconderam. Meu filho ia
virar outro Amarildo”, afirmou Maria de Fátima, em referência ao caso do
ajudante de pedreiro sequestrado, torturado e assassinado por policiais
militares na favela da Rocinha, também no Rio, em outubro de 2013. “Por
que meu filho estava molhado? Não estava chovendo. Quando viram que ele
era da Globo, que ia dar ruim, começaram a desfazer o local. Meu filho
lutou muito e foi arrastado. Tinham marcas de sangue na creche. Estavam
esperando ele morrer. Meu filho agonizou até a morte”, afirmou Silva
também à CBN.
Segundo ela, pessoas da comunidade viram policiais militares fazer um
cordão de isolamento ao redor da Creche Paulo de Tarso, onde o corpo de
Douglas foi encontrado, para que ninguém se aproximasse. Intrigados com
a presença de diversas pessoas no local e ao tentar entender por quê,
moradores descobriram o corpo por volta das 9h de terça-feira, segundo
ela.
A morte de Douglas Rafael provocou comoção na comunidade do
Pavão-Pavãozinho. Moradores do local realizaram um protesto durante a
terça-feira. Na repressão à manifestação, Edilson da Silva dos Santos,
de 27 anos, foi morto com um tiro na cabeça. Ainda não se sabe quem foi o
responsável pelo assassinato.
A versão da PM
O comandante das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), coronel
Frederico Caldas, disse que houve um tiroteio na comunidade por volta
das 22h, mas não foi registrada nenhuma vítima. A Polícia Militar,
segundo Caldas, só tomou conhecimento oficialmente de que havia um corpo
na creche por volta das 10h do dia seguinte.
Segundo Caldas, não há como os policiais militares terem mexido no
corpo, porque eles entraram na creche junto com policiais civis, que
estavam na comunidade para fazer uma perícia do tiroteio ocorrido no dia
anterior. “Segundo o relato dos policiais, não houve qualquer abordagem
ou perseguição no local da troca de tiros. O relato dos policiais é que
quando eles chegaram para checar a denúncia, houve uma troca de tiros
muito intensa e eles decidiram recuar. Eles sequer conseguiram chegar
até o local onde havia a indicação de marginais”, explicou o coronel.
O comandante das UPPs disse que, além da investigação da Polícia
Civil, a Polícia Militar abriu um processo apuratório para entender o
que ocorreu no dia do tiroteio. Pelo menos oito policiais da UPP do
Pavão-Pavãozinho que participaram do tiroteio serão ouvidos tanto pela
Polícia Civil quanto pela Polícia Militar.
Fonte: Carta Capital/Agência Brasil