Entre uma separação e um reencontro passaram-se mais de 20 anos. Até que dois olhares se cruzaram, no Distrito Federal.
“Os anos foram se passando e eu sempre tinha na minha mente: ‘Nossa, onde será que anda meu pai? Onde será que ele se encontra?", lembra Sandra Helena da Silva.
“Eu era jovem. Quando a gente é jovem, é impetuoso. A gente tem uma natureza diferente de quando tem 70 anos”, comenta José Marques.
Sandra nasceu de um romance que Seu José viveu aos 20 e poucos anos de idade. Mas ele era casado, tinha família e outros filhos. As histórias da vida os separaram. Sandra viu o pai uma única vez, aos 15 anos de idade. Um encontro rápido. Depois disso, nenhuma notícia, nenhuma fotografia.
“Não sei qual o motivo. Ele se afastou, mas sempre na memória eu sabia que tinha um pai e um dia eu ia conhecer ele, revê-lo, né?”, conta Sandra.
E 26 anos se passaram. Sandra se casou. Teve cinco filhos. E outro dia, no trabalho como vigilante, ela atendeu um senhor que participava de uma apresentação da terceira idade.
“Veio até mim e pediu que arranjasse uns copos descartáveis para ele. Eu lembro que ele me olhou nos meus olhos”, relata Sandra.
Foi pelos olhos que ela o reconheceu. Os olhos que guardam segredos e, ao mesmo tempo, falam tanto. Difícil de explicar e, ao mesmo tempo, fácil de entender. “Eu senti algo me incomodar, senti algo falar assim no meu coração: ‘Olha que é seu pai”, diz ela.
E Sandra seguiu o coração. Ela perguntou se ele havia conhecido uma “Odete”. Ele respondeu que sim. “Ele ficou me olhando, aí ele disse: ‘Sandra, é você, minha filha?’. Falei: ‘Sou eu, pai”, lembra.
Agora se falam todos os dias. Apesar da vida inteira de ausência, o que ficou foi o amor.
“Geralmente, um caso como esse, o filho cria ódio do pai. E a Sandra não. A Sandra, igual a mim, estava a fim de se encontrar”, afirma o pai.
“Você fica de peito aberto para vida. Meu presente de Natal, meu presente de todos os meus natais, que eu passei assim sem ele”, diz a filha.
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